Crescimento da população, industrialização e desenvolvimento. Os grandes desafios de África

A população de África é mais jovem e está a crescer mais rapidamente do que a de qualquer outro continente, o que coloca um conjunto de questões, a vários níveis, a que o continente terá de dar resposta nas próximas décadas, da formação à industrialização, passando pelo livre comércio para, enfim, atingir o desenvolvimento.

As previsões de uma explosão económica Africana até 2050 ou 2100 não são incomuns. Um argumento típico diz o seguinte: A Ásia Oriental tornou-se uma vítima do seu próprio sucesso, e o crescimento do seu PIB está a abrandar à medida que os salários aumentam e a industrialização atinge a sua capacidade máxima. A população de África é mais jovem, e está a crescer mais rapidamente do que a de qualquer outro continente. Até 2100, de acordo com as previsões das Nações Unidas, um em cada quatro humanos será Africano.

África está pronta a beneficiar deste "dividendo demográfico", tornando-se "a próxima China" - uma fonte mundial de mão-de-obra barata e não qualificada e de capacidade de produção.

Por detrás deste tipo de previsão está também a sensação de que o destino de África está, de alguma forma, fadado à ortodoxia económica; que o progresso das economias baseadas na agricultura e na extracção de recursos não-beneficiados para as baseadas na manufactura, na prestação de serviços e na inovação tecnológica, é inevitável.

A comparação é normalmente com o que ficou conhecido, após um relatório do Banco Mundial com o mesmo nome em 1993, como o Milagre da Ásia Oriental: o crescimento económico exponencial e sustentado da região, desde os anos 80 até aos anos 2010, do qual a China é o exemplo. De 1978 a 2005, a China exibiu uma taxa de crescimento anual do PIB de 10%, o que foi suficiente para duplicar o seu PIB de oito em oito anos, e para retirar cerca de 850 milhões de pessoas da pobreza.

Assim, o argumento vai, tal como nos anos 90 e 2000, quando as economias da Ásia Oriental rapidamente se industrializaram e deram um grande salto nos seus padrões de vida, enquanto a maioria das economias Africanas permaneceu maioritariamente agrária; ao longo dos próximos 50 anos, África irá naturalmente abraçar a indústria transformadora à medida que as economias da Ásia Oriental amadurecerem e se direccionarem para os serviços e a tecnologia. 

É difícil dizer quão exacto este quadro poderá ser. A explosão demográfica de África tem duas caras, uma boa e outra que levanta questões. Porque antes de se tornarem produtivos, os povos Africanos precisam de ver acrescidos os níveis básicos de desenvolvimento, sem esquecer a formação e a educação, mas se o crescimento populacional exceder a capacidade do continente para satisfazer esta natural demanda, o dividendo demográfico tornar-se-á um risco elevado.

Além das projecções demográficas, os indicadores de crescimento Africano baseiam-se em pressupostos que giram em torno do crescimento económico mundial, dos preços das matérias-primas, dos fluxos de ajuda e da evolução geopolítica. O que parece acontecer com demasiada frequência é que África parece estar à mercê de forças globais fora do seu próprio controlo. Então, o que seria necessário para que o continente tomasse o seu desenvolvimento económico nas suas próprias mãos.

Geralmente, teria de aproveitar as vantagens (e não são poucas) de África – não as que lhe são impostas, mas as que lhe são inerentes. Felizmente, há várias.

Um grande mercado comum

Mas, primeiro, uma advertência: África é talvez o continente mais diverso do mundo. Falar de África como uma região unitária não nos leva muito longe. Dito isto, à medida em que as nações Africanas cooperam e prosseguem iniciativas comerciais e de desenvolvimento mutuamente benéficas, crescem as possibilidades de isso ser um factor determinante do seu crescimento económico.

E não faltam sinais encorajadores a este respeito. Como é o caso do advento do tão esperado Acordo de Comércio Livre Continental Africano (AfCFTA), que entrou em vigor a partir de 01 de Janeiro de 2021. Como relatava o sul-africano Daily Maverick, "este acordo será um incentivo para os investidores estrangeiros começarem a posicionar as suas fábricas em África porque isso lhes proporcionará um mercado muito maior - de até 1,4 mil milhões de pessoas”.

Olhar para dentro - tratar África como um mercado vasto e unificado para os seus próprios bens e serviços através da imposição de tarifas e subsídios - exigiria uma cooperação trans-continental empenhada, mas teria como resultado uma maior expansão. 

Para além disto, a diversidade de África é um dos seus pontos fortes. A diversidade e o multiculturalismo geram inovação. Em vez de pensar na população jovem e no crescimento de África como uma fonte de mão-de-obra barata, deveria começar a ser olhada como compreendendo inevitavelmente centenas, milhares de novos Sergey Brins, Elon Musks e Jack Ma’s.

África continua a ser uma das áreas mais ricas em recursos do mundo, mas a extracção e refinação de mercadorias continuam a ser dominadas por empresas americanas, europeias e chinesas. O apelo, muitas vezes repetido mas ainda pouco seguido, para que as nações Africanas acrescentem valor aos seus recursos antes de os venderem por transformar, não apresenta uma solução simples. Porque requer cadeias de fornecimento avançadas, acesso a competências e recursos e concorrência dentro de um vasto, estabelecido e eficiente mercado global.

Uma alternativa a esta questão, como sugere Vuyo Mjimba, do Conselho de Investigação em Ciências Humanas, poderia ser concentrar-se antes nos insumos necessários para a exploração mineira e extracção de recursos. Mas, em qualquer caso, a dependência de África dos seus produtos pode ser exagerada - de acordo com a Goldman Sachs, "... os produtos de base representaram apenas cerca de 30% do crescimento do PIB Africano desde 2000".

Existe um conjunto adicional de recursos a que África tem acesso privilegiado: os bens naturais produzidos através da agricultura. Em vez de ver a agricultura como um sector económico inevitavelmente ultrapassado, ela poderia ser abraçada e desenvolvida. Por exemplo, mais de 400 toneladas de flores cortadas são exportadas de Nairobi todos os dias.

Um valor adicional ao produto poderia ser realizado através da utilização de tecnologia como a IA e a Internet das Coisas, como já está a ocorrer através da utilização de técnicas de agricultura de precisão orientadas por dados.

Aumentar o valor em África, de uma forma geral, pode obter dos seus recursos (humanos, naturais e outros) passa, indelevelmente, pelo incremento de competências. A educação, a formação e a inovação são pré-requisitos absolutos para que as economias Africanas se transformem, e para que África assuma a liderança na determinação do carácter do seu crescimento económico e, por fim, no desenvolvimento socio-económico há muito esperado.