“O Apetrechar do Tempo”, ou como Mabunda recria a implosão do conflito e o renascer da existência
A exposição “O Apetrechar do Tempo”, inaugurada a 21 de Junho, no Camões – Centro Cultural Português, com o apoio do Absa Bank Moçambique, traz de regresso a Maputo o trabalho do criador moçambicano Gonçalo Mabunda, com a participação do artista plástico português Francisco Vidal.
Nunca é de mais relembrar que as criações artísticas de Mabunda são erigidas a partir de destroços de material bélico, enquanto forma de recordar a história dos 16 anos de guerra civil no País (1976-1992).
Mas, mais do que serem arte, ou essencialmente por isso mesmo, servem para, em cada uma delas, fazerem nascer sensações, pensamentos , provocando reflexões que vão bem mais além do que aquilo que se vê com o olhar: “cada bala que destruo é como se fosse uma vida que estou a salvar. E é tão importante, nos dias que correm, esse acto de salvar vidas. Destruir armas, balas, é uma boa forma de começar a fazê-lo”, diz-nos o artista moçambicano, no seu novo estúdio de criação, com vista sobre Maputo, na zona de Katembe.
Mabunda é ciente, até pela dimensão que alcançou enquanto artista, da responsabilidade de ajudar outros artistas que, como ele, querem retratar o mundo. Por isso, planeia abrir um Museu de arte e uma galeria que já está em construção, precisamente naquele espaço, no distrito da Katembe. “Tenho o plano de fazer aqui mesmo um Museu onde irei colocar, além das minhas obras, outras que vou comprando de artistas nacionais e internacionais”, revela Mabunda.
“Os artistas estão a criar e eles são muitos! Mas ainda há pouca dinâmica ao nível das obras expostas e eu, felizmente, tenho alguma exposição mediática. Por isso, vou usá-la para expor os trabalhos de outros artistas. Espero que isso ajude e os incentive a produzir mais”, assinala.
Reconhecido escultor além-fronteiras, Mabunda adverte os artistas emergentes “a serem originais, criativos e disciplinados para puderem alcançar sucesso”, porque é isso que, na sua visão, pode ajudar na construção da sua identidade, “e é esse o caminho para o artista agregar valor ao seu trabalho.”
Mabunda expôs em 2019 no mesmo centro cultural, numa exposição colectiva com os seus irmãos. A obra “os Mabundas” que, tal como todas as outras em que participa, tem um teor de intervenção social.
O Absa Bank Moçambique é um dos parceiros da exposição que apoia enquanto “investimento que vai bem para além de um objectivo económico, porque o Absa não é só um banco, é uma instituição moçambicana que olha para todas as dimensões da realidade nacional, e que melhor forma de o por em prática do que apoiar este tipo de iniciativas ligadas à cultura contribuindo para o reconhecimento dos artistas moçambicanos por cá, e pelo mundo”, explicou.
A exposição ficará patente até ao próximo dia 31 de agosto na Galeria do Camões em Maputo, de segunda a sábado, entre as 10h00 e as 17h00.