Hologramas: O futuro chegou e está mesmo à nossa frente. É ver para crer

É, já hoje, uma indústria de biliões de dólares e ainda só está a começar. Com aplicações que vão da realização de concertos de estrelas da música como Michael Jackson à própria indústria financeira, a holografia já existe... e é bem real.

Em 2019, o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, participou numa audiência na Cúpula da Economia Digital, em Midrand, nos arredores de Johanesburgo. Enquanto isso, a sua imagem holográfica dava, simultaneamente, uma palestra no Centro Cívico de Rustenburg, a cerca de 130 quilómetros de distância. O dom da ubiquidade, antes, próprio dos deuses, chegava à política, numa das inúmeras e incalculáveis funcionalidades da utilização de hologramas no mundo real.

Palavra de origem grega que conjuga ‘holos’, /que significa todo) e ‘grama’, (mensagem, informação ou sinal), o holograma está, ainda assim, bem longe de ser uma invenção recente, tendo sido inventado em 1948 pelo físico e engenheiro electrónico húngaro-britânico Dennis Gabor que, por isso mesmo, receberia o Prémio Nobel de Física em 1971.

Claro que, à época, a tecnologia não era o que é hoje e, muito menos, o que poderá ser no futuro, e só seria mais bem explorada a partir dos anos de 1960, com o aperfeiçoamento do laser, componente essencial tanto para a produção como para a projecção de imagens holográficas.

Para lá da explicação mais científica, o holograma é, na verdade, uma fotografia tridimensional, só possível graças à propriedade ondulatória da luz. A diferença básica entre a fotografia tradicional e a holografia é que esta pode gravar as protuberâncias e os comprimentos das ondas, o que permite que se gerem imagens em relevo.

Actualmente, os hologramas assemelham-se a “miragens” bastante realistas, que reproduzem imagens ou filmagens em 3D. Para que isso seja possível, a luz precisa de se propagar em apenas uma direcção (com o raio laser) sobre uma tela ou um espaço com fumo ou vapor de água que permitam a reflexão do feixe de luz. Complexo? Sim, mas o efeito é bastante real.

Hologramas na carteira

Tudo isto parece futurista? Sim, mas nem tanto. Na verdade, já todos usamos hologramas sem darmos por isso. Quer um exemplo? O cartão de crédito do seu banco. A imagem brilhante, que tem o objectivo de evitar a falsificação (algo que também acontece com muitas notas e documentos oficiais), é na verdade holográfica. No caso das notas, o chamado holograma de reflexão (usado também em selos holográficos e diplomas escolares), é baseado na reflexão da luz para atestar a sua autenticidade.

Mas há outras aplicações para os hologramas, no armazenamento de dados, por exemplo, num tipo de disco chamado HDV (disco holográfico versátil), que armazena dados em 3D com capacidades que vão dos 300 gigabytes até aos 3,9 terabytes de armazenamento.

No entanto, há aplicações mais futuristas e entusiasmantes para os hologramas como as que são usadas em espectáculos de artistas que todos conhecemos. O primeiro de todos, aconteceu com o falecido (em meados da década de 1990) rapper Tupac Shakur, cuja imagem foi projectada num festival em 2012, junto de Snoop Dogg e Dr. Dre.

Desde então, muitos outros artistas já foram apresentados em espectáculos de casa cheia e tournées mundiais holográficas, de Whitney Houston a Michael Jackson, Maria Callas, Roy Orbison, Amy Winehouse, António Variações e mais recentemente, os Abbsa.

Novos horizontes para a arte e a publicidade

Recentemente, a exposição “Dream Now” da Louis Vuitton e da Nike em Greenpoint, Brooklyn, usou cerca de 50 hologramas diferentes para exibir tênis 3D na qual os visitantes podem expandir e girar as imagens do sapato de colecionador 3D.

Os displays holográficos também têm sido usados​​em inúmeras activações de marketing experiencial com marcas globais no Festival Cannes Lions (como a Samsung ou a Gucci).

Já no cinema, a Springbok Entertainment acabou de lançar, em Junho, o filme “Zanzibar: Trouble in Paradise”, o primeiro filme ou documentário holográfico, em competição no Tribeca Film Festival. De acordo com Brandon Zamel, CEO da produtora, numa entrevista à Forbes, “o aumento do potencial da tecnologia holográfica dá aos contadores de histórias em 3D a dimensão ideal para ultrapassar os limites das experiências imersivas. É o começo de uma nova maneira de vivenciar os filmes”, augura.

Claro que o mercado tech, também está atento a esta realidade, com os usuários de telemóveis a poderem, já hoje, utilizar praticamente qualquer conteúdo 3D, incluindo os novos recursos de captura em telefones como iPhone X, 11 e 12, para criar hologramas usando o software e as ferramentas de criação da Looking Glass Factory.

Medicina à distância? É o próximo passo

Na medicina, a promessa vem com a possibilidade de, em breve, poder realizar exames de hologramas de várias partes do corpo, cirurgias remotas com maior precisão e, até, ser visitado pelo seu médico na sua sala de estar, estando a milhares de quilómetros de distância. As potencialidades são inimagináveis.

Por isso mesmo estima-se que o mercado global de imagem holográfica médica chegue aos 4,1 mil milhões de dólares até 2027, de acordo com uma análise da consultora Emergen Research.

A tecnologia domínio das ciências médicas e da saúde fornece demonstrações 3D da anatomia humana facilitando metodologias de aprendizagem substancialmente mais eficazes do que as ilustrações gráficas baseadas em livros de estudo.

Ver... e também tocar

No entretenimento, podemos esperar inovações na reprodução de imagens em 3D com hologramas, propiciando experiências de imersão inigualáveis. Fala-se, com cada vez maior insistência na holografia táctil, que vai permitir uma interacção multissensorial, o chamado “cinema sensível”, abordado na obra-prima “Admirável Mundo Novo”, do escritor Aldous Huxley, em que o telespectador experimentava as sensações reproduzidas com os seus próprios sentidos.

Como da realidade à ficção, o salto parece cada vez menor, a Universidade Brigham Young, nos Estados Unidos, desenvolveu recentemente uma técnica para criar hologramas tridimensionais, utilizando uma tecnologia chamada de photophoretic-trap volumetric display, conseguindo um feito inédito: capturar a luz no ar para criar um objecto virtual que tem a mesma profundidade do objecto real.

Por enquanto, e apesar de só terem conseguido recriar hologramas bastante pequenos, está aberta a porta para que, no futuro, possamos reproduzir tudo aquilo que fomos vendo na ficção científica, aproximando-nos de realidades que, até então, só eram possíveis em filmes como Star Trek, Star Wars, ou Minority Report.

O futuro está, cada vez mais perto e agora, podemos vivê-lo com os nossos olhos.