Os meninos da neve da Ilha de Moçambique

Em África, ser albino pode ser sentença de morte. Na região dos Ggrandes Llagos, rituais de bruxaria condenam ao desaparecimento – à morte – centenas de albinos cujos ossos, órgãos e membros do corpo se acredita terem poderes mágicos. A Ilha de Moçambique – com a avenida dos meninos da neve a destacar-se no urbanismo – é uma espécie de oásis para os meninos albinos que lá habitam, que todos conhecem e poucos ostracizam.

Num trabalho publicado na revista Courrier Internacional, com fotografias de José Carlos Carvalho, com texto de Margarida Vaqueiro Lopes, na Ilha de Moçambique, contam-se histórias que devem ser lidas.

Em Moçambique, ao contrário do que acontece em muitos outros países Aafricanos, as pessoas que nascem com albinismo - condição genética que se reflecte numa ausência quase total de pigmentação na pele – não sofrem pelos rituais de bruxaria. Mas a pele, e também os olhos, desprovidategida de protecção natural, torna-se ainda mais sensível aos efeitos de um sol abrasador durante quase 365 dias pordo ano.

Estima-se que, em África, 90% dos albinos morram antes dos 40 anos.

Além disso, são vítimas de um elevado estigma, que os faz viver à margem de praticamente todas as comunidades onde nascem, crescem e, inevitavelmente, não se inserem.

Na Ilha de Moçambique, no entanto, há três irmãos que desafiam as estatísticas. Rosa (19 anos), Ali (14 anos) Omar (9 anos), vivem com a mãe, Jumita, e com o irmão Nelson de 1 ano. Os três irmãos albinos são fruto da primeira relação de Jumita, hoje com 32 anos. Do seu segundo casamento nasceu Nelson, que não partilha da condição genética dos irmãos mais velhos.

No bairro dos pescadores, um dos mais pobres da Ilha, passam os dias entre as brincadeiras e o ócio a que o calor convida, sem que a escola pareça ser opção.

E, apesar de se destacarem entre as outras crianças das ruas que habitam, estão perfeitamente integrados na comunidade. Na pele, têm marcada a força dos elementos e no olhar a consciência de que viverão menos e com mais sofrimento do que os que vivem ao seu redor.