África no caminho da revolução da Inteligência Artificial

Os líderes empresariais em África estão optimistas acerca do potencial da inteligência artificial (IA) na transformação do continente, e estão a investir activamente na tecnologia para ganhar uma fatia do mercado global de IA.

A confirmação surge no relatório “2022 State of AI in Africa” publicado recentemente pelo AI Media Group, que mostra como nos últimos cinco anos muitas empresas em todo o continente estão a fazer esforços para apostar na IA para alavancar a eficiência empresarial.

A IA está no centro da Quarta Revolução Industrial (4IR). A primeira marcou o ritmo da produção manual à mecanizada, entre 1760 e 1830, a segunda, por volta de 1850, trouxe a electricidade e permitiu a manufactura em massa, sendo que a terceira aconteceu em meados do século 20, com a chegada da electrónica, da tecnologia da informação e das telecomunicações. Agora, estamos já em plena transição em direcção aos novos sistemas construídos sobre a infra-estrutura da revolução digital, resultando num período de rápida transformação ancorado em tecnologias de fronteira como a IA, o 5G, a Blockchain, a IoT, a cloud, a impressão 4D, a computação quântica e o metaverso, só para citar as mais conhecidas.

E são estas novas dimensões tecnológicas que estão a ultrapassar os seus próprios desafios individuais, tornando-se numa ferramenta para os diferentes tipos negócios. Voltando à IA, muito do seu crescimento em África tem sido atribuído à disrupção trazida pela pandemia de covid-19 que acelerou, é um facto, aquilo que conhecemos como a transformação digital.

Entrando no estudo, ficamos a perceber como mais de 2.400 empresas africanas já trabalham na área da IA, sendo que quase metade (40%) foram fundadas nos últimos cinco anos, o que mostra como a indústria, estando a dar os primeiros passos iniciais de crescimento em África, o faz de forma afirmativa. Algo que se nota pelo facto de 34% das empresas que utilizam a IA serem médias empresas com menos de 100 trabalhadores, enquanto que 41% são startups com menos de dez trabalhadores.

Até 2030, a IA poderá gerar 1,5 biliões de dólares para o PIB de África.

É um número que impõe respeito e que, de resto, já consta nas previsões da maioria dos gestores de empresas africanas, que vêm nas potencialidades da IA, da análise de dados ao machine learning, revolucionar áreas como a saúde, a banca e os seguros, a logística, as extractivas ou o agronegócio.

E o salto (quântico, seria apropriado dizer) é tão relevante que Stephen Ibaraki, fundador do projecto AI for Good da United Nations-International Telecommunication Union, assinala mesmo no relatório que “África está no centro da actual remodelação digital global das indústrias.”

"Com 500 mil milhões de dólares em riqueza realizada globalmente em 2022, África representa por esta altura ‘O’ lugar das oportunidades de investimento na IA", diz ele.

Enquanto, em 2020, as empresas de IA atraíam 36 mil milhões de dólares no mundo, as empresas de IA no continente só conseguiram angariar 11,63 milhões de dólares. Mas com a pandemia, tudo mudou.

Se olharmos aos números globais, estima-se que a IA possa valer (de forma directa ou indirecta) até 15,7 biliões de dólares na economia global de 2030, qualquer coisa como o PIB anual da China e da Índia juntas, imagine-se. E os analistas assumem que a IA poderia expandir a economia africana para uns espantosos 1,5 biliões de dólares até 2030 - cerca de 50% do seu PIB actual - se conseguisse captar apenas 10% do investimento do mercado global de IA.

Sem surpresa, as nações que dominam a IA no continente são a África do Sul, que lidera com larga margem, seguida de Quénia, Egipto e Nigéria. Ainda assim, são as Maurícias são o primeiro país em África a publicar uma estratégia nacional em matéria de IA, tendo também desenvolvido um atractivo ecossistema tecnológico e de investimento. Moçambique não vem listado ao nível de startups especificamente ligadas à IA, mas o número de empresas que começam a pensar recorrer a ela não páram de crescer, sendo inevitável a sua chegada em força à banca, seguros ou à análise de big data, por exemplo.

IA é a ‘next big thing’ na atracção de investimento

A nível do continente africano, de forma global, o investimento em IA atraiu 500 milhões de dólares para 120 empresas em 12 países diferentes da região, alavancando os investimentos no ecossistema tecnológico africano que tiveram, em 2021, o seu melhor ano de sempre, angariando 5,2 mil milhões de dólares (dados da Partech, uma plataforma de rastreio de investimentos).

Não é surpresa que as fintech tenham dominado o financiamento total do ano passado, representando 63% do total (ou 3 mil milhões de dólares para as startups africanas da área financeira). No entanto, a IA é a ‘next big thing’ a este respeito.

Com o advento da computação em nuvem, a crescente penetração móvel e da Internet, juntamente com o aumento dos níveis de investimento, de colaboração entre mercados e o apoio tanto local como internacional, a ‘explosão’ da adopção de tecnologias emergentes em África não pode ser ignorado. E será, muito em breve, uma realidade (não virtual).