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Roots of Creation Studio. Da necessidade à oportunidade

A Roots of Creation Studio é uma startup moçambicana criada pelos jovens Meirim Marrengula e Felizarda Zunguze, que promove a preservação ambiental e o uso sustentável dos recursos naturais através da arte e do design.

Dito de outra forma, esta pequena empresa moçambicana produz objectos de arte a partir de materiais reciclados, como garrafas e outros recipientes plásticos ou de vidro, e também se dedica a acções de consciencialização, através de palestras e workshops, focando-se na divulgação de conhecimento sobre a importância da reciclagem e do reaproveitamento de materiais, fomentando a adopção de boas formas de tratamento dos resíduos sólidos descartados e alertando para os benefícios ambientais deste tipo de acção.

A ideia de fazer obras de arte a partir de objectos reciclados, segundo Meirim, “surge do cruzamento entre a necessidade e a oportunidade”, conforme conta. “A verdade é que fazer arte é caro. É difícil encontrar materiais para trabalhar aqui em Moçambique e, um dia, pensei, olhei em volta para ver o que tinha ao meu dispor e percebi que, afinal, o que mais tinha era 'lixo’. O que é o lixo e o que determina que não se possa fazer algo com ele, reutilizá-lo?”.

A ideia conceptual, não sendo nova, entra num alinhamento que é cada vez mais utilizado um pouco por todo o mundo, especialmente nos dias que correm, em que a sustentabilidade, associada à moderação do consumo e à reutilização de materiais para todo o tipo de utilização é, cada vez mais, uma questão a ter em conta. E, neste ponto, a arte pode ser uma bela forma simbólica de o fazer, apontando o caminho a seguir. “Começámos a ver como podia fazer-se o reaproveitamento desses resíduos, fomos à internet ver o que outros artistas estavam a fazer um pouco por todo o mundo e fomos criando as nossas próprias ideias”.

Desde pequeno, Meirim sempre gostou de desenhar. Em 2014 (antes de fazer o curso de artes visuais) criou o nome Roots of Creation (raízes da criação, na tradução simples para Português) e, de forma ainda quase artesanal, esboçava desenhos e estampava-os em camisolas. Mas, é já durante a formação que amadurece o projecto de formalizar a empresa. Mais tarde, já em 2019, deu corpo à ideia e fundou a empresa com o mesmo nome, juntamente com uma amiga que estudava gestão cultural, e que actualmente é sua sócia.

No entanto, os primeiros tempos de actividade não foram fáceis, enfrentando os desafios com que a grande maioria dos artistas e artesãos se deparam no país, especialmente, em tempos de pandemia. Até que o grande salto para o sucesso da empresa se dá com a participação no concurso “Createc 2.0”, organizado pelo Centro Cultural Moçambicano-Alemão. O concurso visava premiar startups que desenvolvessem um ‘negócio digital verde’. Aí, juntaram-se a informáticos e desenvolvedores de programas e trouxeram a sua ideia para o meio digital, vencendo o concurso.

Depois, a startup participou em mais dois concursos internacionais, o “Ignite Africa” e o “Climate Launchpad 2020”. Meirim diz que, “mesmo não tendo ganho nenhum deles, foi importante participar porque adquirimos conhecimento valioso e aprendemos sobre como funciona a gestão e o negócio de algo deste género, questões essenciais para alavancar a nova marca.”

Mas, mesmo com esse caminho feito, nem tudo é perfeito desde então, e o jovem empreendedor aponta uma das grandes dificuldades que continua a enfrentar naquilo que tipifica como um “negócio verde”: a falta de apoio por parte das organizações nacionais a projectos deste género. “É mais fácil obter ajuda de embaixadas e centros culturais de outros países. Creio que isso acontece porque a importância da reciclagem e do cuidado ao meio ambiente ainda não é algo que as empresas e a população, de uma forma geral, olhem como questão fundamental. Temos de mudar isso”, assinala.

A Roots of Creation Studio não tem apenas o objectivo de vender arte mas também o de ajudar as pessoas portadoras de deficiência e carenciadas, tendo, para isso, vindo a trabalhar em formações em parceria com o Fórum das Associações Moçambicanas das Pessoas com Deficiência (FAMOD.

Sem grandes apoios empresariais, e dependendo unicamente das vendas que são feitas online e, desde que a pandemia abrandou, em alguns mercados de artesanato da cidade de Maputo, a Roots of Creation auto-financia todas as formações e workshops que ministra e, para poder sustentar as suas actividades, criou a marca M.Creative, uma empresa de design gráfico.

Com o que produzem na M.Creative, os jovens de 30 anos, Meirim e Felizarda, investem no desenvolvimento da sua marca de arte e design e vão ganhando tempo, para que um dia o seu ‘sonho verde’ ganhe raízes, e floresça.

Pode conhecer mais sobre esta marca na sua página de Facebook:
https://pt-br.facebook.com/rootsofcreationstudio/