Sung Min Cho
Surf Moçambicano além-fronteiras
Sung Min Cho ou simplesmente “Mini” como é tratado, é o único e mais consagrado surfista moçambicano profissional.
Aos 24 anos, filho de mãe moçambicana e pai sul-coreano, nascido na cidade de Inhambane provém de uma família humilde, e desde cedo teve que começar a trabalhar para ajudar nas despesas da família. Nascido na zona da praia do Tofo, foi, como não poderia deixar de ser, numa vaga trazida pela maré do destino que Mini Cho viu a sua vida tomar um rumo que não imaginava, impulsionado pela sua paixão pelo mar, de cujas ondas desde o colo ouviu o som quando quebravam no areal.
Em menino, passava os dias na praia, observando com curiosidade aos turistas que surfavam no imenso mar do Tofo e, lembra, foi ali que tudo começou. Mas por mais forte que fosse a vontade que o queria levar para o mar, ele ainda era inalcançável porque não podia pagar pelas aulas de surf ou a prancha que o iria, um dia mais tarde, encaminhar mar a dentro para se entregar na força das ondas que hoje, conseguiu domesticar.
Só que em 2014 viu a sua sorte mudar quando ganhou uma prancha de um turista uma prancha. Embora tenha iniciado a sua maratona no surf numa idade considerada tardia para a modalidade, o amor e dedicação ajudou-o a tornar-se no primeiro surfista profissional moçambicano, já com várias representações do País em provas internacionais.
E aquilo que antes era só um anseio, é hoje a vida profissional Mini. “Sim, e não só isso. Na verdade o surf continua a ser o meu escape e ajudou-me a mudar a minha vida, algo que tento que aconteça também com a vida dos outros. Por vezes as pressões do trabalho e da vida podem ser muito grandes, mas sempre que entro na água para surfar, sinto que escapo a todas as minhas pressões. No momento em que toco na água, limpo a minha mente. Mais do que uma profissão, o surf mudou a minha vida e ajudou-me a apoiar a minha família e a minha comunidade”.
Apesar da jovem idade, não se esquece de como o surf mudou a sua vida, e como pode ajudar outros jovens como ele já foi, a mudarem a sua também. É por isso coordenador do projecto Tofo Surf Club, um programa que visa ‘desviar’ as crianças da região com problemas sociais, aproximando-os do mar e dos benefícios deste desporto. “O nosso objetivo é usar o surf para envolver as crianças na vida do oceano, ensiná-las e orientá-las na sua jornada de vida, ajudando-as a crescer e a perceber o seu próprio valor e a importância do mar. Moçambique tem um enorme potencial para os desportos de mar, tem a quarta maior linha costeira de África, o que naturalmente significa que o oceano é uma parte vital para o quotidiano de muitas pessoas. A água é quente durante todo o ano, temos sol durante todo o ano e o Tofo, bem como a região, tem toda uma indústria baseada no turismo marítimo, pelo que a maioria das oportunidades de emprego estão à volta do oceano. Portanto, ensinar as crianças a nadar e a fazer surf acabará por levá-las a abraçar oportunidades dentro e fora do oceano, como instrutores de surf, mestres de mergulho, capitães de barco, nadadores-salvadores e muitas outras. O meu objectivo é que as crianças que passam pelo programa cresçam na comunidade e se tornem uma parte vital da indústria nestas áreas e ao mais alto nível”, assinala.
Mini destaca que o Tofo Surf Club continua a abrir caminho para o crescimento do surf e da cultura do surf local, mas realça a necessidade de outras zonas costeiras adoptarem estas estratégias porque assim “haverá uma abundância de talentos” e definitivamente um País, “porque não”, afiança, “com potencial para ser candidato olímpico nestas disciplinas”.
Sung Min Cho já conseguiu colocar seu nome no surf ao nível internacional mas, confessa, ainda carrega grandes sonhos para a sua carreira e para o futuro do surf no País. “Neste momento, o meu objectivo é ir aos Jogos Olímpicos em 2028. Para o surf, desejo que cresça em Moçambique. E de ver cada vez mais moçambicanos a representar o País internacionalmente. Mais do que tudo, quero ver o surf a mudar as comunidades, e a usá-lo para uma mudança positiva”.